quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Leituras (3)

passar a vida perto, não mais do que perto


Perto da Felicidade

Richard Yates

Quetzal

216 páginas

12,70 euros

*****


Há livros que nos falam de sonhos que se concretizam. Há livros que falam sobre sonhos que se desfazem com um ruído estrepitoso, fruto de um acidente ou de uma catástrofe. Depois há Richard Yates e o seu “Perto da felicidade”, um livro que fala dos sonhos que se desfazem nas nossas vidas quase sem se dar por isso.

Nascido no bairro de Yonkers, em Nova Iorque, Richard Yates serviu na II Grande Guerra, em França e na Alemanha, tendo novamente regressado à sua cidade natal.

Foi aí que começou a escrever com regularidade, sendo autor de mitos dos discursos de Bob Kennedy. Morreu no Alabama em 1992. Deixou, para além deste “Perto da Feliciade, mais seis romances e dois livros de contos. A Quetzal publicará, ainda este mês, “Jovens Corações em Lágrimas”.

Yates, que ganhou maior notoriedade, em Portugal, depois da adaptação ao cinema do seu romance “Revolutionary Road”, com Kate Winslett e Leonardo Di Caprio, escreve sobre a América dos anos 40 e sobre todos nós.

Escreve sobre os homens que sonharam um dia dar um pontapé no emprego, arriscar tudo numa mudança de carreira, mas que se acobardando diante as responsabilidades familiares.

Descreve as mulheres que entram em profundas depressões por não terem uma vida mais entusiasmante, afundando-se no lodo do quotidiano.

Revela os adolescentes que vêem a universidade passar ao longe porque engravidaram uma namorada.

“Perto da Felicidade” é o romance de todos quantos ainda acreditam que são capazes de vencer as areias movediças do dia-a-dia.

Richard Yates não é nem um Paulo Coelho, tentando vender receitas de auto-valorização e de auto-motivação. Richard Yates também não é um moralista de dedo esticado esfregando lições de moral em nariz alheio.

Yates é a mão que escreve a esmagadora e quase imbatível força dos dias que passam e cilindram vidas inteiras, com o especial sadismo de deixar sempre num horizonte muito próximo a possibilidade da felicidade.

Este norte-americano, que conta parte da vida de um capitão que chega à I Grande Guerra três dias depois de ela acabar, sabe que sofre mais aquele que sonhando com o combate, acaba vencido por uma paz insuportável.

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